Filha de imigrantes italianos, dona Dorolinda mora em Paulínia desde 1926
POR THAÍS BEZERRA
FOTOS: DAMARIZ GALVEZ
Se fosse para dizer a idade de dona Dorolinda Buchi Ferro apenas pela sua lucidez, certamente erraria feio. Nem mesmo os dois filhos que acompanharam nossa entrevista souberam precisar o número de netos e bisneto que ela tem. Mas dona Dorolinda, uma senhora de 100 anos, respondeu sem pensar: são 13 netos e 16 bisnetos. Ficamos todos surpresos. Os cabelos brancos, a voz baixa e a pouca audição também não deixam transparecer o tempo de vida e a experiência dessa mulher forte, que teve de assumir a casa e os filhos depois de uma viuvez precoce. “Ela sempre foi uma esposa submissa, como a maioria das mulheres de sua época, mas quando meu pai faleceu, assumiu todas as responsabilidades com muita garra. Somos muito gratos a ela por tudo”, afirma Antônio Ferro Sobrinho, filho mais novo.
Homenagem
Em homenagem ao aniversário da cidade, procuramos esta senhora, que chegou em Paulínia 38 anos antes de sua emancipação. Nessa época, o município ainda era um distrito de Campinas e tinha apenas uma rua, a Rua do Comércio. E foi por aqui que dona Dorolinda acabou ficando e construindo sua família. Filha de imigrantes italianos, ela chegou na cidade com apenas nove anos, em 1926. A família se mudou para a Fazenda Recreio Rosa Amélia, onde hoje é o Fontanário, em busca de uma vida melhor. Seus pais eram agricultores e sempre trabalharam na roça. Aos 18 anos, ela se casou com Luiz Ferro, com quem teve cinco filhos. Apesar da vida difícil daquela época, o casal se dava bem e conseguiu criar os filhos com muita dignidade. Mas, aos 54 anos, Luiz Ferro faleceu e ela teve que assumir o comando da casa. Com bastante habilidade para o artesanato, dona Dorolinda sempre fez lindos trabalhos, tendo como especialidade o crochê. E foi com a venda de seus produtos que ela conseguiu pagar a faculdade de uma das filhas. A devoção e a caridade também estiveram presentes em sua vida. “Ela sempre frequentou a igreja e tinha, inclusive, uma barraca de crochê na feirinha da Matriz. Só parou de expor seus produtos aos 90 anos”, conta a filha mais velha, Aglair Ferro Mauro. Além de contribuir com a construção da igreja, dona Dorolinda também fazia trabalho voluntário para o Lar dos Velhinhos.
Vitalidade
Sua vitalidade é tanta, que ela própria produziu as lembrancinhas de seu aniversário de 100 anos. Além disso, não apresenta nenhum problema de saúde e só começou, há bem pouco tempo, a tomar alguns medicamentos de uso contínuo. Para o filho Antônio, uma palavra que resume tudo o que dona Dorolinda é e sempre foi é fé. “O caminho dela sempre foi de muita fé e oração. E esse é o maior legado que ela tem nos deixado”, conclui o filho, emocionado.